FLIP 2024 - Parte I: tudo sobre o lançamento do meu livro A menina que salvou os peixes
FLIP-aventuras e agradecimentos-de mim-paraty (!!)
A Parte II desse texto você pode ler aqui.
Em uma das minhas tradições de ano novo mais longevas, todo 27 de dezembro eu escrevo uma carta para a Marília-do-futuro a ser lida somente no 27 de dezembro do ano seguinte. Nesse ritual, dentre outras coisas, escrevo os meus desejos para a Marília que vai viver o próximo ano, e tudo assim, em primeira pessoa escrita para uma terceira. Tudo à distância porque, na verdade, eu não conheço a Marília-do-futuro. Tudo o que eu consigo saber no momento de escrever a carta é que eu sou parte dela.
Na última carta (a ser aberta somente no próximo 27 de dezembro), lembro que escrevi sobre a decisão de me dedicar mais à minha escrita em 2024, e foi essa lembrança que me voltou no dia do lançamento do meu primeiro livro na FLIP.
Bem ali, numa casa histórica na beira da praia, num fim de tarde com céu azul e sol quentinho, ouvindo samba, acompanhada de pessoas que eu amo e outras tantas que eu conheci — bem ali, naquele instante sagrado, A menina que salvou os peixes foi lançado ao mundo. E, se enquanto eu escrevia a última carta, alguém me sussurrasse que em 2024 eu lançaria o meu primeiro livro na FLIP, no cenário de um início do mar num dia de verão na primavera, eu apenas sorriria. Seria tão inacreditável quanto ainda me é. E então, eu apenas sorrio.
A menina que salvou os peixes na FLIP 2024
Depois de cinco dias agitadíssimos no Rio de Janeiro a trabalho, eu cheguei em Paraty na quinta-feira, 10 de outubro, bem no fim da tarde, com a minha super caravana: minha mãe e minhas tias Alê e Néia. Logo depois de nos ajeitarmos na pousada, caminhamos pelo canal debaixo de uma chuva-pega-bobo rumo ao tão esperado primeiro encontro com o meu livro na Casa Gueto, bem no encontro do fim da cidade com o começo de algum mar. Depois de encontrar a lombada azul com o meu nome e um peixinho, segurar o meu livro nas mãos pela primeira vez foi de um êxtase tão sereno que eu me senti como aquela chuva: caindo leve, sem se anunciar, quase imperceptível, mas molhando um mundo inteiro.



Pouco depois, ficamos para a festa Flopou: bebida, música, literatura, boas companhias — e eis que foi lá o meu primeiro encontro com uma das melhores surpresas que 2024 me trouxe: a Andressa Arce é uma escritora campo-grandense talentosíssima que também teve seu primeiro livro No dia em que não fui publicado agora pela Editora Patuá (vou falar sobre ele no vi-vivi-ouvi de outubro dos próximos dias). Mesmo nascendo e vivendo no mesmo lugar, foram necessários dois livros e outra cidade para que nossos caminhos se encontrassem. Felizmente, é sempre tempo para os grandes encontros de uma vida.

Na manhã seguinte, a caravana se dividiu em atividades pela cidade enquanto esperávamos pelo quinto integrante: o Gio estava chegando de São Paulo em poucas horas. Aproveitei a manhã pra namorar o canal, os barcos, a cidade à luz do dia e assisti à mesa a paz e o gesto, um encontro delicadíssimo e estrondoso entre a Lisa Ginzburg e a Ana Margarida de Carvalho, mediada pela Adriana Ferreira Silva. Caminhei as ruas da cidade outro pouco, passei pela Casa de Histórias (espaço da minha amada Revista Piauí com a Netflix), e logo fomos nos encontrar com o Gio para o almoço, um brinde e algumas boas risadas.
À tarde, estávamos na Casa Gueto para a sessão de autógrafos. Chegando lá, outro encontro especial com o meu primeiro amigo substacker e colega de editora, o queridíssimo Chris von Koenig, que escreve a Newslenta. Ele estava com o livro de poemas Acende uma fogueira para a longa noite (Editora Patuá), que me cativou fácil — cheio de amor, calor e vida, cheio de esperança. A sessão do Chris foi uma hora antes da minha e lá eu estava, pelo momento dele; e lá ele estava também, pelo meu — e o carinho de quem se descobre dividindo um mesmo espaço: esse que não é de chão, mas que se encontra em sincronia de caminhos.

A sessão do meu livro começou com uns minutinhos de atraso e eu nem lembro o porquê, mas lembro da Néia me dizendo:
— Quem te vê nem pensa que você tá nervosa!
E eu ri e, abrindo os braços, respondi:
— Como eu poderia estar? Olha onde a gente tá!
O céu estava azul, o sol brilhante na pele, o mar logo à frente, as pessoas que me amam ali comigo — eu sentia somente uma leveza imensa.
“eu entendi agora: Paraty é de uma leveza imensa.
numa tarde lindíssima de sol e céu azul, entre a praia e a igreja histórica, *A menina que salvou os peixes* foi lançado. Tudo numa sessão super divertida, cheia de carinho, risadas e azul, e penso então que foi daí que veio a leveza. Toda a leveza que eu acredito que existe no verão, toda a leveza que deu início ao livro e encontrou cada uma das histórias — eu vi toda essa leveza transbordar na tarde de ontem. Acredito que esse é um bom presságio, seja lá pra vida que for, pra vida que eu acredito que é.” — post no Instagram do @lexicoazul






Saindo de lá, fui com o Gio tomar café no Jardim Secreto (o melhor queijo quente que eu já comi na vida) e corri de volta pra Casa de Histórias para assistir à programação pela qual eu estava mais ansiosa: uma conversa sobre os perfis da Piauí com a participação da Ana Clara Costa, repórter cuja escrita eu admiro muito. E em meio a tantas emoções no dia, tomada por um repente de adrenalina, fui falar com ela e cometi uma gafe (mas essa história constrangedora eu conto na Parte II). E em outro instante minutos depois, começa um happy hour na Casa de Histórias: circulando doses de cachaça Gabriela, colocaram uma pulseira no meu braço e eu brindei a boa surpresa com a Mari, jornalista paulistana que conheci por lá, cuja conexão rendeu um dos melhores papos da minha FLIP, com direito a vinhos e quitutes patrocinados pela Netflix.
Sábado foi o nosso último dia completo por lá. As meninas foram fazer um passeio de escuna pelas praias de Paraty, Gio foi pra cachoeira e eu fiquei pra explorar a cidade e assistir a algumas programações. Voltei pra Casa de Histórias para o painel Como narrar a crise climática?, mediado pelo brilhante Bernardo Esteves, com os escritores Natalia Borges Polesso (A extinção das abelhas) e Pablo Casella (Contra fogo), para uma conversa sobre ficção climática, assunto sobre o qual eu tenho escrito bastante nos últimos meses, e eu estava curiosíssima pelo livro do Pablo porque me é muito difícil entender como conseguir algum distanciamento emocional para escrever sobre algo tão desesperador como a crise climática — a mesa foi sensacional.
Saindo de lá, voltei à Casa Gueto e, por acaso, conheci o Paulo (e a mãe dele, a queridíssima dona Sanelva — sou sua fã!), outro escritor (e músico!) muito talentoso. Com uma espontaneidade cativante, o Paulo (ou PERJS) começou a conversar comigo sobre o livro de poemas dele, o Entre Idas e Recaídas (Kotter Editorial) — e eu vi transbordar dele uma paixão e uma coragem que não lembro de já ter visto antes. Enquanto ouvia ele falando, por um instante, senti um arrepio que soou como uma certeza: esse menino ainda vai explodir no mundo. Bem ali, eu penso que presenciei o sentimento de Destino em outro alguém.
Ele abriu o livro no poema SMS para Deus e, sem saber, conversou com um dos contos do meu livro, o Que se resolvam com Deus. E então, esse presente em versos:
“Mas adorava os deuses espaciais, assistia ao céu
como se não nos engolisse.” — versos do poema SMS para Deus.
O restante daquela tarde foi quase eterno e eu me vi tão perdida nos meus pensamentos quanto perdida entre as ruas da própria cidade. Eu escrevi, tomei bons cafés, ouvi palestras sobre o João do Rio e a Chiquinha Gonzaga, encontrei por acaso o Gregório Duvivier, a Tati Bernardi e a Vera Iaconelli (juro, Parte II!), ouvi músicas tocando na rua, até que, finalmente, a exaustão me alcançou. Os agitados dias cariocas e os emocionantes dias paratienses chegaram à flor da pele e eu encerrei ali a minha primeira FLIP — que, mesmo assim, não terminou sem um gostinho de “já quero de novo”.
E toda comovida e maravilhada com tudo o que eu vivi até aqui:
obrigada à Editora Patuá por acreditar no meu livro, em mim, na minha escrita e, principalmente, por criar esse espaço tão lindo para a literatura brasileira existir (e persistir!) com novos talentos — Edu, Pri e toda a equipe patuense que eu conheci na FLIP: o olhar carinhoso de vocês é de outro mundo! Obrigada por toda a gentileza e simpatia que vocês derramaram à beira daquele mar;
obrigada ao meu conterrâneo Gabriel Santana, editor do meu livro que, com um olhar atenciosíssimo, soube como cuidar das minhas histórias, personagens e cores com muito carinho;
obrigada à Carla Heloísa que, com o lindo projeto gráfico, trouxe as cores e os peixinhos aos nossos olhos de fora desse aquário — sem saber, você leu o meu azul favorito;
Giu, obrigada por me dizer para escrever o conto A menina que salvou o peixe — esse livro nasceu ali. Obrigada por ser a minha maior referência literária, pelo seu extremo bom gosto, pelas nossas divisões todas e, principalmente, por ser minha melhor amiga;
um imenso obrigada aos meus amados amigos campo-grandenses, brasileiros e não-brasileiros (!) que não medem palavras em língua alguma para expressarem o quanto estão orgulhosos, felizes, e o tanto que me amam e torcem por mim. Inclusive, que não medem esforços para me ajudarem com artes de divulgação, filmagens, comunicação, ideias de eventos: tudo ganhou uma carinha nova depois de vocês — a minha vida mesmo não teria graça nenhuma sem as suas personalidades todas;
muito obrigada à equipe maravilhosa da pesquisa clínica por toda a torcida, amor, apoio e, principalmente, por todo o espaço que vocês me garantem para crescer e realizar os meus maiores sonhos. As mensagens de vocês me emocionaram muito e deixaram o gosto do azul do céu de Paraty!;
e um obrigada sem tamanho à minha família (aos que ficaram e, também, aos que se foram): pais, irmãos, tias, tios, sobrinho, padrinhos, avós, primos, cunhados e pets. Vocês sempre fizeram questão de que eu acreditasse que poderia ser quem eu quisesse e fazer o que eu amo todos os dias da minha vida. Obrigada por me ensinarem, me encherem de amor e me garantirem uma infância com sabor de verão — muito desse amor todo que existe no livro nasceu lá. E um agradecimento especial à família da caravana paraty-paranós: mãe, tiasminhastiastitiastias e Gio (sim, o Gio é família nossa) — ter vocês lá, rindo e se emocionando comigo, me fez sentir de frente com o mundo inteiro.
Muito obrigada a todos vocês que, com tanto carinho, transformaram em uma realidade lindíssima a minha melhor ficção. 💙
O meu livro A menina que salvou os peixes está à venda no site da Editora Patuá e também na Amazon. E se você já leu, deixa uma avaliação lá, por favor? 🥲💙🐟
Que delícia de relato! Meu coração ficou quentinho sobre o que você escreveu sobre nosso encontro. Que linda sua generosidade! Que linda você!